Universidades atuaram também no combate à fome e pela segurança alimentar
Durante a pandemia, a mídia destacou sobretudo a atuação das universidades públicas na pesquisa clínica, na colaboração para o desenvolvimento de vacinas, no sequenciamento do genoma do vírus, na linha de frente do atendimento nos hospitais universitários, em colaboração com o SUS, ou na retaguarda, treinando profissionais, produzindo equipamentos e assessorando gestores públicos.
Contudo, não menos importante foi a atuação solidária das instituições federais para combater a volta da fome, que atinge 33 milhões de pessoas no país, e a pobreza, efeitos complementares e dramáticos do coronavírus e da má gestão do governo federal diante da crise sanitária.
As universidades federais atuaram em campanhas de arrecadação e distribuição de alimentos e itens de higiene para prevenção da Covid-19 voltadas para públicos em situação de vulnerabilidade social (inclusive da comunidade universitária), em programas de combate à fome e de assessoria para a geração de trabalho e renda (como no apoio à organização coletiva e à comercialização de produtos agrícolas e artesanais).
Na quase totalidade dos casos, a doação de alimentos esteve acompanhada de ações de assistência, prevenção, cuidado e informação sobre a Covid. As iniciativas mais avançadas e inovadoras foram as que conectaram, por meio de projetos de extensão e incubadoras tecnológicas, toda a cadeia produtiva, gerando renda no combate à fome: das lojas de insumos agrícolas e pequenos produtores rurais, a empresas de transporte e distribuição, doadores e, claro, na ponta as comunidades beneficiadas. Todos esses parceiros recebiam dos universitários, além de alimentos, informações preventivas e orientação de cuidado.
Em pesquisa realizada pelo SoU_Ciência em outubro de 2021, "fome e pobreza" eram, segundo 62,1% dos entrevistados, o maior problema do Brasil, para além da pandemia em si. Perguntados sobre o papel das universidades públicas nesse contexto, além de realizar ensino e pesquisa, 20% dos entrevistados consideraram que seria importante contribuir com políticas públicas, apoiar comunidades em situação de vulnerabilidade, divulgar informação confiável e incubar novas empresas.
Trazemos aqui alguns exemplos de campanhas e ações voltadas ao enfrentamento da insegurança alimentar, realizadas pelas universidades em parceria com suas comunidades acadêmicas e a sociedade civil organizada, no apoio a comunidades em situação de vulnerabilidade.
A Universidade Federal do ABC paulista (UFABC) atuou no apoio social, jurídico e no fornecimento de cestas básicas para população de rua e LGBT+ em situação de vulnerabilidade. A UFPel teve iniciativa similar, em Pelotas. No Acre, a UFAC distribuiu mais de 20 toneladas de alimentos para 6 mil pessoas. Em Alagoas, a UFAL também atendeu comunidades desassistidas com cestas básicas e atuou no combate à desnutrição. No Amazonas, a UFAM realizou doações de cestas básicas para diversas comunidades indígenas. No Pará, a UFPA distribuiu 3 mil cestas básicas. No Tocantins (UFT), no Sul da Bahia (UFSB), em São Paulo (Unifesp) e no Rio Grande (FURG), as comunidades indígenas e vulneráveis também foram atendidas.
Em Porto Alegre, a UFCSPA arrecadou alimentos, itens de higiene, limpeza e roupas para comunidades quilombolas e indígenas, e trabalhadores terceirizados da própria universidade. No Espírito Santo, a UFES contou com entidades assistenciais para fazer as doações chegarem às comunidades. Em Goiás, a iniciativa de doação de alimentos da UFG foi realizada em parceria com a Câmara de Vereadores de Goiânia. A jovem Federal do Oeste da Bahia (UFOB) atuou em redes de solidariedade e arrecadação de alimentos nos cinco municípios em que possui campi. No Recôncavo Baiano, a UFRB lançou um edital emergencial de segurança alimentar e nutricional para apoio às comunidades.
Já a UFMG, por meio de grupo de pesquisa e extensão (Praxis) e e articulando-se à plataforma nacional Periferia Viva, conseguiu mapear em tempo real e conectar os que precisavam de suporte e os que podiam ajudar, não apenas na área de segurança alimentar, mas também na geração de renda e saúde mental. Em Santa Maria-RS (UFSM), o apoio incluiu catadores de materiais recicláveis, além da população de rua, indígenas e quilombolas. A Tecnológica do Paraná (UTFPR) realizou doações em todos os seus campi, com foco na população de rua, indígenas, lar de idosos e abrigos de crianças.
Em Viçosa-MG, a UFV articulou projetos de extensão, a Incubadora de cooperativas populares e agricultores numa rede de solidariedade, e doou alimentos dos restaurantes universitários (fechados com o ensino remoto) para instituições filantrópicas e hospitais. A Federal do Oeste do Pará (UFOPA) fortaleceu a agricultura familiar e promoveu segurança alimentar e nutricional por meio da aquisição de cestas agroecológicas oriundas da produção familiar na região de Santarém, apoiando comunidades vulneráveis e quilombolas. No Rio Grande do Norte, a UFRN adquiriu alimentos de agricultores do assentamento Quilombo dos Palmares e contou com a Incubadora de empreendimentos solidários para a entrega das cestas.
O sistema universitário federal brasileiro, articulado com entidades civis, municípios, pequenos agricultores, atuou incansavelmente em defesa daqueles em situação de maior vulnerabilidade. As redes de solidariedade puderam ser rapidamente ativadas graças a projetos de extensão e incubadoras em que as universidades já dialogavam com estas comunidades, entidades e agricultores. Ou seja, a relação de confiança e parceria já estava estabelecida previamente e permitiu que a produção e doação de alimentos chegassem a quem mais precisava.
As universidades federais realizaram muitas outras ações de solidariedade, mas as ações no combate à fome, construídas comunidade a comunidade, em cada território, evidenciam a relevância pública e social da presença das universidades federais nas diversas regiões do país.